Light Matters: O elemento ausente na Bienal de Veneza

Elements of Architecture,” a exposição com curadoria de Rem Koolhaas na Bienal de Veneza 2014, investigou diversos componentes estruturais e técnicos da arquitetura como, por exemplo, pisos, paredes, portas, escadas e banheiros. Mas por que a luz não estava entre eles?

Meu manifesto pela inclusão da luz como elemento fundamental da arquitetura - a seguir.

O foco de Koolhaas na retrospectiva histórica e seu interesse na teoria da arquitetura poderia ter oferecido perspectivas esclarecedoras e iniciado um longo e negligenciado debate sobre o papel da luz na arquitetura. A negligência é particularmente estranha considerando a análise cuidadosa  da influência da luz que Koolhaas fez em seu livro Nova Iorque Delirante, de 1978, onde ele claramente documenta, por exemplo, o "banho elétrico" de 1890 que estendia o tempo das pessoas nas praias de Coney Island, ou a Lei de Zoneamento de 1916 que garantia mais luz para as ruas e edifícios de Manhattan. 

Mas Koolhaas não é o único arquiteto e pensador famoso que colocou a luz numa posição de menor importância. A luz é frequentemente sugerida devido a sua natureza invisível; afinal, é apenas quando o material a reflete que podemos vê-la. Como Louis Kahn poeticamente resumiu: "O sol não tinha consciência de sua beleza até atingir a lateral de um edifício."

A Bienal atual poderia ter explorado os pontos onde a luz é crucial - como a exposição de janelas históricas da Brooking National Collection ou a seção teto, com padrões visuais de iluminação. No entanto, essas perspectivas focam mais na forma do que na luz. No momento em que a iluminação se torna um elemento para espionar a privacidade no espaço público ou quando a poluição lumínica coloca em risco a saúde e a vida selvagem, a visão crítica de Koolhaas teria sido extremamente valiosa. 

Janelas, em "Elements of Architecture" na Bienal de Veneza. Imagem © Nico Saieh

Diversos museus na Alemanha já começaram a prestar mais atenção na influência da luz na arquitetura: por exemplo, "The secret of the shadow – Light and shadow in architecture" no Museu Alemão de Arquitetura em Frankfurt (2002), “Luminous buildings: Architecture of the night” no Kunstmuseum Stuttgart (2006), e a exposição mais recente “Lightopia”, no Vitra Design Museum em Weil am Rhein (2013). Além disso, artistas que trabalham com a luz, como Olafur Eliasson, que criou um sol artificial no Turbine Hall do Tate Modern em Londres, nos lembram do quão importante é a luz em nosso dia a dia. Até mesmo a ONU reconheceu a relevância da luz, proclamando 2015 como o "Ano Internacional da Luz".

A luz natural - ou artificial - não constitui um elemento essencial da arquitetura? A luz não moldou significativamente nosso ambiente público, bem como nossas vidas privadas, nos últimos 100 anos? A luz não influenciou as maravilhas do mundo  - como as Grandes Pirâmides de Gizé, o Farol de Alexandria ou Stonehenge? Mesmo que Koolhaas e sua equipe tenham perdido a chance de reconhecer a luz como um elemento essencial da arquitetura na Bienal de Veneza, é hora de revitalizarmos o debate acerca do papel histórico e futuro da luz e da iluminação no projeto arquitetônico e urbano.

Light matters é uma coluna mensal sobre luz e espaço escrita por Thomas Schielke. Residindo na Alemanha, o autor é fascinado por iluminação arquitetônica, já publicou diversos artigos sobre a temática e foi co-autor do livro "Light Perspectives". Para mais informações, acesse www.arclighting.de ou siga-o em @arcspaces.

Sobre este autor
Cita: Thomas Schielke. "Light Matters: O elemento ausente na Bienal de Veneza" [Light Matters: The Missing Element At the Venice Biennale] 28 Jul 2014. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/624648/light-matters-o-elemento-ausente-na-bienal-de-veneza> ISSN 0719-8906

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